Texto Bíblico: Mateus 21.1-11
Estimada Comunidade,
Hoje é Domingo de Ramos. A história que lemos na Bíblia já
deixa isto muito claro. Aliás, essa história da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém
é uma daquelas histórias definitivas... Assim como a história do Natal ou da
travessia do povo de Israel pelo mar vermelho. É dessas histórias fantásticas e
contraditórias, que povoam a nossa imaginação e nos fazem voar em pensamento.
I
Então vamos voar, cara comunidade. Vamos a esta cidade:
Jerusalém, nos primeiros anos da Era Cristã. Uma metrópole. A capital. A maior
cidade da região. O lugar onde se decide sobre a vida e sobre a morte de um
povo. Jerusalém, uma espécie de Roma da época. Ali é também a sede da igreja,
da fé. É lá que está a ligação entre o céu e a terra, entre Deus e a
humanidade.
Estamos ali, na maior cidade do país, passeando pela rua. Há
muita gente, pois é a Páscoa judaica, a maior festa da nação. Em pouco, será o
dia em que se celebra a saída da escravidão, a fuga do Egito, a libertação do
povo de Israel. Há felicidade no ar, as pessoas conversam animadas. Grandes
preparativos estão sendo feitos para a festa. A cidade se enfeita e as casas
emanam aromas deliciosos de alimentos preparados no capricho.
As pessoas caminham ao nosso lado. Estão cheias de
expectativa por causa da festa... Mas também de frustração, pois a velha
tradição parece ter perdido o seu brilho. Afinal, a festa para lembrar
libertação já não tem mais muito sentido, pois essa liberdade do Egito é uma
coisa tão lá atrás no passado, que a gente nem lembra mais direito como é ser
livre. Agora há um clima pesado no ar. É um clima de “de já vú!” (já vi isso
antes); um clima de grilhões. A escravidão, ao menos simbolicamente, voltou a
vigorar, a atormentar e a castigar o povo de Deus.
Estamos ali, caminhando pelas ruas de Jerusalém. Quando
avistamos um guarda romano, atravessamos a rua. É mais seguro. Ele representa o
opressor. É melhor manter distância. Ele pode cismar com a gente e isso é um
risco muito grande...
E de repente, som de alarido. Uma turma muito animada,
agitando bandeirolas e ramos de palmeiras, vem pela rua. O pessoal vai tirando
as túnicas e cobrindo o chão. O centro de tanta algazarra é um cara montado num
burrico. A turma agitada o chama de “rei”. Grita “Hosana!”.
Como reagimos diante desta cena? Como você reage? Você, que
agora está ali na calçada, vendo o cortejo passar. Talvez você olhe para aquilo
e pense: “que turma de fanáticos! O que eles estão pretendendo com isso? Chamar
a atenção?”. Quem sabe, você critica: “Isso aí, um rei? Montado num burrico? Só
podem estar de gozação! Imagina...”.
Ou, quem sabe, você já tem algum conhecimento do que espera
por Jesus naquela semana, e pensa consigo: “Como pode... Ele aceita essa
bajulação de rei dos judeus, de gente acenando bandeirolas, e mal sabe que está
sendo conduzido para a pior semana da sua vida. Coitado, ele se atira em cima
da ponta da faca e ainda acha que é festa!”.
Eu não disse que essa história é cheia de lances
contraditórios? O que você vai fazer agora? Você vai se juntar a esta turba,
que chamam de multidão? Você já consegue perceber que alguns deles também podem
estar no meio da mesma multidão que, em alguns dias, vai gritar “crucifica-o!”?
Pois é... Os extremos se tocam, nesta história.
II
Agora acorde e volte para os dias de hoje. E se Jesus
entrasse aqui em Blumenau hoje, montado num burrico, onde você se posicionaria?
Você estaria no meio da turma cantando “hosana” e gritando “viva o nosso rei!”,
ou você estaria à margem, na calçada da Rua XV, com a mão no queixo, comentando
com alguém: “Que turma de doidos é essa aí? Ridículo!”.
Sabe, eu gosto desses jogos de faz-de-conta. A gente podia
colocar-se no lugar de algumas pessoas dessa história. Talvez alguns seriam
como Jesus, aceitando a bajulação, mas sabendo que aquilo pode ser uma cena
falsa, uma baita ironia, um prenúncio de que tudo isso vai acabar mal.
Outros estariam no meio da multidão, como ainda hoje tem
cada vez mais gente nessa multidão, acenando bandeirolas e gritando aleluias
para Jesus, mas quando convém está também no meio da turma que o nega, que pede
sua prisão ou que ele fique calado, e não se meta na nossa vida...
Talvez você estivesse no meio da multidão e, cheio de
sinceridade e fé, também não pensaria duas vezes em tirar a sua camisa para
colocar no chão, para fazer um tapete para Jesus.
A maioria talvez estivesse na multidão que veio para a
festa, a festa da Páscoa. Estariam enfiados nas lojas, fazendo as últimas
compras e torcendo para que o crédito do cartão não tenha acabado...
Mesmo achando a tradição meio velha, meio morta e sem graça,
com todos aqueles enfeites bregas de ovinhos coloridos e coelhinhos com cara de
tanso, a maioria estaria ocupada demais para ver a procissão triunfal de Jesus
montado num burrico. Estaria preocupada em planejar a viagem do feriadão, ou
contabilizar os lucros da semana gorda da venda de chocolates e guloseimas. Talvez,
você também estaria nessa turma, imaginando como vai ser o reencontro da
família lá no interior e mais ocupado em comprar a carne, a cerveja o limão e a
cachaça para a caipirinha...
Enquanto isso, a procissão passa e aquela cena de Jesus-Rei,
montado num burrico, só pode ser mais uma velha tradição, uma coisa meio
carnavalesca, não é mesmo? Que se dane tudo isso... Eu quero é curtir o
feriado, afinal, eu mereço! Andei trabalhando demais ultimamente e preciso de
uns dias de folga para mim.
III
Estimada comunidade! Acho que essa história toda é uma
caricatura, que se opõe de propósito a tudo o que nós imaginamos como bom e
certo. Um rei montado num burrico é um sinal claro de que nossa forma de
encarar o poder não é a mesma de Deus. E, se vocês prestam um pouco atenção na
história da vida de Jesus, vão ver que o burrico faz parte do começo e do fim
da vida de Jesus... Sim, porque Maria veio a Belém, com Jesus na barriga,
montada num burrico. Depois, com ele no colo, fugiu para o Egito.
Agora, Jesus monta num burrico e permite que a multidão o
chame de rei dos judeus, aquele que vem para acabar com o jugo romano, que vem
instaurar o Reino de Deus na terra...
Sabe, Jesus faz uma caricatura dos nossos conceitos de
poder, dos “valores” em que nós costumamos acreditar. O reino de Deus, vem
montado num burrico. E o rei não vem com espada e exército, com poder e
intrepidez, resolver todos os problemas do mundo. O rei que vai reger o reino
de Deus, entra na cidade que, ainda naquela semana, vai pendurá-lo numa cruz,
onde ele vai morrer vergonhosamente, como um mendigo incendiado no banco de uma
praça... É uma cena dura, quase inaceitável. Mas isso é necessário. O justo
morre pelos pecadores.
Ele se sacrifica para governar a nossa vida, a tua e a
minha. E é justamente por isso que hoje, neste Domingo de Ramos, Jesus não quer
entrar somente em Jerusalém. Ele quer que você abra o seu coração. É lá que ele
quer dar entrada triunfal! Receba-o com bandeirolas e ramos, com exaltações de
Hosana e Glória.
Isso vai mudar não só a sua vida, dando a ela um sentido
completamente novo. Ao mudar a sua vida, Jesus transforma também a nossa
sociedade, sempre tão hostil ao amor, à solidariedade, à paz e à justiça. Ao
entrar no coração de cada um e cada uma de nós, Jesus transforma a nossa
cidade. Agora sim, pode haver paz e justiça, vida e plenitude. Caminhemos
firmes, ao lado da multidão neste domingo de ramos. E nos alegremos porque o
nosso Rei já vem, para transformar a nossa realidade e trazer vida plena. Amém.
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Culto Itoupava Seca, Blumenau – 13.04.2014
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