segunda-feira, 11 de julho de 2011

A questão ambiental e as igrejas

Neste ano em que a IECLB escolheu como tema do ano a questão ambiental, sob o mote “Paz na Criação de Deus”, há uma questão importante que deve ser levantada. A mesma questão também se levanta diante do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, promulgado pela igreja católica. Ao cobrar postura ambiental da sociedade e dos cidadãos, como se posiciona a própria igreja diante da questão ambiental? Ou seja, quem propõe ações e procedimentos também os considera em seu próprio meio?

Para ser bem direto: a questão ambiental faz parte das questões a serem consideradas na administração da igreja? Como lidamos com os dejetos, o lixo, as sobras das festas, o papel usado em nossas secretarias, o material dos retiros e seminários, o tipo de material adotado nos cofee-breaks de nossos encontros e reuniões? Adotamos pratos e copos descartáveis para poupar o pessoal de lavar a louça depois e nem pensamos na agressão ambiental desta decisão? Que destinação a igreja dá para as sobras das festas de comunidade? Que tipo de detergente é usado para lavar os pratos depois do café do grupo das mulheres, ou depois do chá beneficente?

Como é tratado o bosque ou o jardim que cerca o templo, o cemitério, a casa pastoral, o centro comunitário? Questões ambientais sérias e refletidas são colocadas na balança? Ou o veneno é mais prático e menos trabalhoso do que a enxada? As folhas que caem das árvores são tratadas como lixo ou como componentes da adubação natural? Que produtos e técnicas são utilizados na limpeza e manutenção interna e externa dos ambientes comunitários?

Quais os cuidados com a água nas dependências eclesiais? Que tipo de válvulas assiste as descargas dos banheiros? As torneiras têm timer ou jorram água indefinidamente? Há vazamentos a serem controlados? Uma cisterna recolhe águas pluviais para rega, uso na limpeza e nos banheiros?

Quando a paróquia troca o carro de serviço do seu/sua ministro/a, a questão ambiental é considerada ou o peso maior está direcionado unicamente para o custo? O veículo a ser comprado é a melhor opção do ponto de vista ambiental? A exigência do/a ministro/a em relação a tamanho/potência/acessórios/etc. condiz com uma igreja que propõe “Paz na Criação de Deus”?

A questão ambiental é conscientemente planejada num acampamento de jovens, num dia da igreja, numa assembléia sinodal ou em outro encontro qualquer? Ela é levada em conta na avaliação pós-evento? Ela é um item considerado primordial no planejamento estratégico da igreja? Até mesmo no nosso culto, há alguma preocupação concreta com a questão verde, ou nos limitamos a incluí-la nas orações de intercessão?

Quando a comunidade constrói um novo templo, local de reuniões, casa de retiros, a obra tem preocupação com o impacto ambiental? São tomados cuidados para que o ambiente contemple corretamente ventilação/refrigeração/calefação com o uso mínimo de aparelhos que minimizem deficiências nestes aspectos, como ar-condicionado ou aquecimento central? Uma casa de retiros precisa de aquecimento central de água, em que durante um banho se jogam centenas de litros de água pelo ralo antes que se possa alcançar a temperatura desejada para um banho confortável?

Enfim, esta listinha de perguntas inquietantes poderia estender-se por muitos outros parágrafos e áreas em que nos movemos como igreja, nas nossas atividades semanais. A questão primordial, entretanto, é a do exemplo. Quem cobra, deve ao menos estar disposto a incluir o objeto de sua cobrança nas ações do seu próprio dia a dia. Quem propõe um debate como este, do tema do ano, deve tornar-se ele próprio objeto de avaliação.

Para não ficarmos, mais uma vez, somente numa “prédica”, ou seja, num discurso sem consequências práticas, chamo a atenção para um fantástico projeto que está dando certo na Alemanha. Trata-se de um selo verde eclesiástico, chamado “Der Grüne Hahn” (O Galo Verde). A símbolo (acima) faz referência aos galos no alto das torres das nossas igrejas. Ele está lá como um vigia, um atalaia. O Galo Verde é um atalaia ambiental sobre a torre da igreja.

Trata-se de um programa ambiental em que qualquer paróquia ou instituição eclesial da Alemanha pode inscrever-se. Ela elabora um programa ambiental para ser usado em suas dependências e atividades, coloca-o em prática e se submete a avaliação de observadores do “Der Grüne Hahn”. Há uma vistoria periódica, tipo ISO 9000, que determina se a instituição pode receber o selo do Galo Verde e se está apta a manter o referido selo de período em período. O programa está construído sobre o tripé Credibilidade – Sustentabilidade – Responsabilidade.

O ideal do projeto é desafiar a Igreja a uma administração responsável com o futuro, no sentido de que a igreja que defende a Criação também executa suas ações de modo responsável ambientalmente, no sentido de manter o planeta habitável para as futuras gerações. Mais detalhes sobre o Galo Verde podem ser obtidos no site do selo: http://www.gruener-hahn.net/.

Coisas boas devem ser transplantadas e imagino que, a exemplo dos selos ISO, também possamos implantar o selo do Galo Verde entre nós, de modo amplo e macro-ecumênico. Estou disposto a organizar um grupo para refletir estratégias e fazer contatos com a entidade alemã, no sentido de viabilizar sua implantação por aqui. O desafio está lançado.