terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Os elementos do Advento

O tempo de advento é o tempo de preparação para celebrar e afirmar que Deus, em seu amor, decidiu tornar-se alguém de nós, e preencher a vida, nossa vida, de esperança e de sentido. Ele nos presenteou a vida, e nos colocou para viver neste mundo onde os elementos fundamentais são a terra, o ar, a água e o fogo. Estes elementos nos ajudam a recordar que somos obra de suas mãos. O autor da vida é o Deus Criador. Portanto, é necessário reconhecer que somos frutos de seu grande amor.

Uma idéia interessante é usar a coroa de advento e as suas quatro velas como forma de apontar para estes elementos fundamentais da natureza como forma de recordar que Deus nos dá a vida, a vida abundante, a vida que não se perde.

A primeira vela é a terra. Fomos formados do pó da terra. Deus é nosso oleiro e nos moldou a cada um/a, com a sua característica, os seus dons, o seu modo particular de reagir aos eventos da vida. Cada um/a de nós é único/a, distinto/a, especial; formado/a do pó da terra, nosso elemento básico, primordial. Eles nos presenteou com a vida.

A segunda vela é o ar. Deus é Palavra. E ela se revela através do ar que passa entre as cordas vocais. Tudo foi criado por meio dela. O barro tornou-se ser humano pelo sopro em suas narinas. Ar é vida. Respiramos. Logo, existimos. O ar é liberdade de expressão, é elemento essencial para a vida. Ele é espírito, que corre livre, leve e solto. Não há amarras para o ar em movimento. Ele é o próprio movimento. Ele é o próprio Deus, em todos os lugares, cercando tudo e todos. Dependemos dele integralmente. Do ar. De Deus.

A terceira vela é a água. A água imediatamente nos remete ao batismo. Cada um/a de nós é chamado pelo seu nome. A salvação é universal. Mas ela é essencialmente individual, dirigida diretamente a cada ser humano, com nome e endereço, enviado para a nossa caixa postal. Estamos todos unidos pelo fluido que tudo interliga. Como a água, assim é o amor de Deus. É a água batismal que nos torna herdeiros da salvação. É o solvente universal, que a tudo purifica, lavando a nossa condição de párias do Reino de Deus. A água é inclusão, também diante de Deus. A fé faz brotar rios de água viva em cada ser humano.

A quarta vela é o fogo. É o Espírito Santo que veio sobre Maria e a ungiu para ser o meio que revela, conduz, entrega, apresenta aquele que salva. Deus é ardor, é calor, é elemento que purifica e transforma. Como o fogo, ele está presente em nosso meio, aquecendo, renovando, iluminando o caminho para os nossos passos. É tão essencial quanto o sol para a vida no nosso planeta. A escuridão deforma, resseca, esfria, provoca depressão e medo. A luz que vem de Deus, no menino revelado pelo Espírito, renova, acalenta e faz brotar.

Se por estes quatro elementos Deus decidiu voluntariamente tornar-se presença para a humanidade, nos deixemos impulsionar pelos elementos essenciais da vida para portar vida digna, plena, abrangente, inclusiva, renovadora.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A fonte de água

Todo mundo tem saudade de uma fonte, ainda que nunca tenha visto uma. É que na alma ficam guardadas as coisas que a gente amou e se foram. Elas se foram, mas não morreram. O amor não deixa que elas morram. Ficam lá na alma da gente, esquecidas, adormecidas... Mas, de repente, a gente se lembra! E quando a gente se lembra, vem a saudade...

Onde estão as fontes? Você talvez nunca viu uma, mas eu garanto que, em algum lugar da sua alma, e na alma de todo mundo, há uma fonte de água cristalina. E a gente gostaria de beber da sua água, com as mãos em concha... O Pequeno Príncipe vivia num asteróide. Caiu, por acidente, aqui na terra e foi andando, encontrando-se com homens, conhecendo costumes, com olhos de criança. Tudo lhe parecia espantoso!

Pois ele se encontrou com um homem que lhe tentou vender pílulas de matar a sede. “Para que servem as pílulas de matar a sede?”, perguntou o principezinho. O vendedor se espantou. Como era possível alguém tão ignorante, que não percebesse os benefícios da técnica e da ciência? E tratou de explicar: “Os cientistas e pesquisadores verificaram que, durante um mês, as pessoas perdem 30 minutos, só indo aos filtros, geladeiras e bebedouros para beber água. Gastam esse tempo porque têm sede. Se não tiverem sede, elas não gastarão mais esse tempo. A pílula de matar a sede, como diz o nome, mata a sede. Não sentindo sede, não precisam beber água. Não indo beber água, economizam, por mês, 30 minutos”.

O Pequeno Príncipe ficou espantado. “E o que é que eu faço com esses 30 minutos?” - perguntou. “Com esses 30 minutos você faz o que você quiser”, respondeu o vendedor. “30 minutos para fazer com eles o que eu quiser! Que coisa maravilhosa! E o que eu quero fazer com esses 30 minutos? Ah! Já sei! Se eu tivesse 30 minutos para fazer com eles aquilo que eu quero, eu iria tranqüilamente, andando até uma fonte, para beber água...”

É mais uma pequena lição que podemos aprender. Nós também passamos muito tempo da nossa vida procurando a “pílula para matar a nossa sede”. Nos afogamos com tantas coisas fúteis, inúteis, passageiras, sem sentido... Gastamos tempo e fortunas tentando aplacar a nossa sede interminável, sede que vem lá de dentro da alma... mas não conseguimos aplacar a nossa sede da alma, porque a fonte que está la dentro é só mais uma lembrança. A fonte da nossa alma secou, virou lodaçal ou areal...

Por isso temos tanta saudade da fonte que deveria estar dentro de nós.
Mas há uma fonte, que todos nós sabemos que existe. Sobre esta fonte, Jesus disse certa vez: “Quem beber desta água, jamais terá sede”. É a fonte da água da vida, daquela água que mata a nossa sede de verdade, mata a saudade da fonte... mata a sede da alma. Jesus, a fonte da vida, quer aplacar a nossa sede de vida, de sentido de vida, de amor, de paz, de tranqüilidade, de sossego... Assim como estes momentos de final-de-tarde de domingo, quando chegamos aqui, cheios de sede... Jesus aplaca esta nossa sede.

Coloquemos as nossas mãos em concha e bebamos até que o nosso estômago faça chlok chlok, de tanta água. E peguemos uma folha de inhame... lembram? ... Coisa linda, a água dentro de uma folha de inhame! Ela fica prateada, reluzente. Quem viu uma vez, jamais esquece... fica gravado na alma, para sempre, a imagem da água rolando dentro da folha de inhame! Peguemos uma folha de inhame e levemos dessa preciosa água, chamada Jesus, para as nossas casas, para que ela transforme nossas vidas, nossas famílias, nossos lares, tudo... É isso que é esse tempo de Advento. É isso que é Natal. A fonte da água prateada e bela, rica e que mata para sempre a nossa sede de vida.

(Baseado em reflexão de Rubem Alves)