segunda-feira, 14 de abril de 2014

Páscoa em Jerusalém

Texto Bíblico: Mateus 21.1-11

Estimada Comunidade,

Hoje é Domingo de Ramos. A história que lemos na Bíblia já deixa isto muito claro. Aliás, essa história da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém é uma daquelas histórias definitivas... Assim como a história do Natal ou da travessia do povo de Israel pelo mar vermelho. É dessas histórias fantásticas e contraditórias, que povoam a nossa imaginação e nos fazem voar em pensamento.

I

Então vamos voar, cara comunidade. Vamos a esta cidade: Jerusalém, nos primeiros anos da Era Cristã. Uma metrópole. A capital. A maior cidade da região. O lugar onde se decide sobre a vida e sobre a morte de um povo. Jerusalém, uma espécie de Roma da época. Ali é também a sede da igreja, da fé. É lá que está a ligação entre o céu e a terra, entre Deus e a humanidade.

Estamos ali, na maior cidade do país, passeando pela rua. Há muita gente, pois é a Páscoa judaica, a maior festa da nação. Em pouco, será o dia em que se celebra a saída da escravidão, a fuga do Egito, a libertação do povo de Israel. Há felicidade no ar, as pessoas conversam animadas. Grandes preparativos estão sendo feitos para a festa. A cidade se enfeita e as casas emanam aromas deliciosos de alimentos preparados no capricho.

As pessoas caminham ao nosso lado. Estão cheias de expectativa por causa da festa... Mas também de frustração, pois a velha tradição parece ter perdido o seu brilho. Afinal, a festa para lembrar libertação já não tem mais muito sentido, pois essa liberdade do Egito é uma coisa tão lá atrás no passado, que a gente nem lembra mais direito como é ser livre. Agora há um clima pesado no ar. É um clima de “de já vú!” (já vi isso antes); um clima de grilhões. A escravidão, ao menos simbolicamente, voltou a vigorar, a atormentar e a castigar o povo de Deus.

Estamos ali, caminhando pelas ruas de Jerusalém. Quando avistamos um guarda romano, atravessamos a rua. É mais seguro. Ele representa o opressor. É melhor manter distância. Ele pode cismar com a gente e isso é um risco muito grande...

E de repente, som de alarido. Uma turma muito animada, agitando bandeirolas e ramos de palmeiras, vem pela rua. O pessoal vai tirando as túnicas e cobrindo o chão. O centro de tanta algazarra é um cara montado num burrico. A turma agitada o chama de “rei”. Grita “Hosana!”.

Como reagimos diante desta cena? Como você reage? Você, que agora está ali na calçada, vendo o cortejo passar. Talvez você olhe para aquilo e pense: “que turma de fanáticos! O que eles estão pretendendo com isso? Chamar a atenção?”. Quem sabe, você critica: “Isso aí, um rei? Montado num burrico? Só podem estar de gozação! Imagina...”.

Ou, quem sabe, você já tem algum conhecimento do que espera por Jesus naquela semana, e pensa consigo: “Como pode... Ele aceita essa bajulação de rei dos judeus, de gente acenando bandeirolas, e mal sabe que está sendo conduzido para a pior semana da sua vida. Coitado, ele se atira em cima da ponta da faca e ainda acha que é festa!”.

Eu não disse que essa história é cheia de lances contraditórios? O que você vai fazer agora? Você vai se juntar a esta turba, que chamam de multidão? Você já consegue perceber que alguns deles também podem estar no meio da mesma multidão que, em alguns dias, vai gritar “crucifica-o!”? Pois é... Os extremos se tocam, nesta história.

II

Agora acorde e volte para os dias de hoje. E se Jesus entrasse aqui em Blumenau hoje, montado num burrico, onde você se posicionaria? Você estaria no meio da turma cantando “hosana” e gritando “viva o nosso rei!”, ou você estaria à margem, na calçada da Rua XV, com a mão no queixo, comentando com alguém: “Que turma de doidos é essa aí? Ridículo!”.

Sabe, eu gosto desses jogos de faz-de-conta. A gente podia colocar-se no lugar de algumas pessoas dessa história. Talvez alguns seriam como Jesus, aceitando a bajulação, mas sabendo que aquilo pode ser uma cena falsa, uma baita ironia, um prenúncio de que tudo isso vai acabar mal.

Outros estariam no meio da multidão, como ainda hoje tem cada vez mais gente nessa multidão, acenando bandeirolas e gritando aleluias para Jesus, mas quando convém está também no meio da turma que o nega, que pede sua prisão ou que ele fique calado, e não se meta na nossa vida...

Talvez você estivesse no meio da multidão e, cheio de sinceridade e fé, também não pensaria duas vezes em tirar a sua camisa para colocar no chão, para fazer um tapete para Jesus.

A maioria talvez estivesse na multidão que veio para a festa, a festa da Páscoa. Estariam enfiados nas lojas, fazendo as últimas compras e torcendo para que o crédito do cartão não tenha acabado...

Mesmo achando a tradição meio velha, meio morta e sem graça, com todos aqueles enfeites bregas de ovinhos coloridos e coelhinhos com cara de tanso, a maioria estaria ocupada demais para ver a procissão triunfal de Jesus montado num burrico. Estaria preocupada em planejar a viagem do feriadão, ou contabilizar os lucros da semana gorda da venda de chocolates e guloseimas. Talvez, você também estaria nessa turma, imaginando como vai ser o reencontro da família lá no interior e mais ocupado em comprar a carne, a cerveja o limão e a cachaça para a caipirinha...

Enquanto isso, a procissão passa e aquela cena de Jesus-Rei, montado num burrico, só pode ser mais uma velha tradição, uma coisa meio carnavalesca, não é mesmo? Que se dane tudo isso... Eu quero é curtir o feriado, afinal, eu mereço! Andei trabalhando demais ultimamente e preciso de uns dias de folga para mim.

III

Estimada comunidade! Acho que essa história toda é uma caricatura, que se opõe de propósito a tudo o que nós imaginamos como bom e certo. Um rei montado num burrico é um sinal claro de que nossa forma de encarar o poder não é a mesma de Deus. E, se vocês prestam um pouco atenção na história da vida de Jesus, vão ver que o burrico faz parte do começo e do fim da vida de Jesus... Sim, porque Maria veio a Belém, com Jesus na barriga, montada num burrico. Depois, com ele no colo, fugiu para o Egito.
Agora, Jesus monta num burrico e permite que a multidão o chame de rei dos judeus, aquele que vem para acabar com o jugo romano, que vem instaurar o Reino de Deus na terra...

Sabe, Jesus faz uma caricatura dos nossos conceitos de poder, dos “valores” em que nós costumamos acreditar. O reino de Deus, vem montado num burrico. E o rei não vem com espada e exército, com poder e intrepidez, resolver todos os problemas do mundo. O rei que vai reger o reino de Deus, entra na cidade que, ainda naquela semana, vai pendurá-lo numa cruz, onde ele vai morrer vergonhosamente, como um mendigo incendiado no banco de uma praça... É uma cena dura, quase inaceitável. Mas isso é necessário. O justo morre pelos pecadores.

Ele se sacrifica para governar a nossa vida, a tua e a minha. E é justamente por isso que hoje, neste Domingo de Ramos, Jesus não quer entrar somente em Jerusalém. Ele quer que você abra o seu coração. É lá que ele quer dar entrada triunfal! Receba-o com bandeirolas e ramos, com exaltações de Hosana e Glória.

Isso vai mudar não só a sua vida, dando a ela um sentido completamente novo. Ao mudar a sua vida, Jesus transforma também a nossa sociedade, sempre tão hostil ao amor, à solidariedade, à paz e à justiça. Ao entrar no coração de cada um e cada uma de nós, Jesus transforma a nossa cidade. Agora sim, pode haver paz e justiça, vida e plenitude. Caminhemos firmes, ao lado da multidão neste domingo de ramos. E nos alegremos porque o nosso Rei já vem, para transformar a nossa realidade e trazer vida plena. Amém.
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Culto Itoupava Seca, Blumenau  – 13.04.2014