terça-feira, 8 de maio de 2012

Preparado para o fim dos tempos?

Já começou. Um clima de expectativa em torno de mais um anúncio de fim do mundo está mexendo com as pessoas. Esotéricos de plantão afirmam que, segundo previsão maia, um evento catastrófico planetário deve ocorrer no final deste ano. O deadline do apocalipse é o dia 21 de dezembro de 2012.

Esse tipo de previsão tem audiência garantida há milhares de anos e ainda hoje. O que, afinal, está por trás da previsão maia? O que ela tem a ver com o Apocalipse, um dos livros mais lidos da Bíblia e que tem dado origem a muitas interpretações e polêmicas? Qual é a real mensagem do Apocalipse?

CALENDÁRIO MAIA - Os maias deixaram uma impressionante civilização, surgida entre 2.000 e 1.500 anos antes de Cristo, que mais tarde foi “absorvida” pelos astecas, ainda antes da chegada dos espanhóis. Essa civilização deixou um legado na América Central que intriga os pesquisadores até hoje.

Poucas civilizações deixaram registros tão significativos sobre astronomia, matemática e arquitetura. Seu calendário foi aperfeiçoado ao longo 1.200 anos, com cálculos tão precisos, que era capaz de relacionar os movimentos do Sol, de Vênus, da Lua e das constelações num mesmo calendário, ainda hoje usado nas comunidades de origem maia, provando que o fim dessa fascinante cultura indígena é um mito.

Com uma percepção cíclica do tempo – não linear, como a nossa –, os maias entendiam que os fatos se repetem de tempos em tempos, permitindo prever o futuro. Assim como as fases da lua e as estações do ano, também a história se repete num círculo virtuoso, permitindo prever chuva e estiagem, fartura e carestia, vigor e declínio civilizatório e a chegada de novos governantes. O calendário maia é dividido em eras de 5.125 anos, subdivididas em 13 baktunes de 400 anos.

Num registro encontrado no sítio arqueológico de Tortuguero-México, consta a data “4 Ajaw 3 K’ank’in” (em nosso calendário, é o dia 21 de dezembro de 2012). É o fim de uma era de 13 baktunes, ao término da qual o deus Bolon Yokte retornaria para começar uma nova era.

Para quem tem percepção linear do tempo, isso é difícil de entender. O apocalipse encaixa-se bem em nossa visão porque o tempo corre em linha reta, rumo a um final. Para os maias, o tempo anda em círculos. Quando uma era fecha a roda, começa outra. Não há espaço para o apocalipse.

Por muito tempo, essas inscrições foram um mistério. Hoje se sabe que são previsões com recomendações gerais para o povo, desde o nome e o destino de cada pessoa até questões sobre colheitas ou o clima. A visão cíclica do tempo e a observação cuidadosa dos acontecimentos permitiam antecipar-se à repetição no próximo ciclo, o que era parte fundamental do pensamento maia.

APOCALIPSE – Nossas previsões de que o mundo vai acabar têm origem no medo do futuro e na perspectiva de um fim catastrófico, como castigo divino pelos desmandos da humanidade. Especialmente na época de Jesus, o apocalipsismo era muito popular. O livro do Apocalipse é apenas um dos muitos textos da época. Marcos 13, Mateus 24 e Lucas 21 são outros exemplos de textos apocalípticos no Novo Testamento. Isso é como lenha na fogueira das seitas e da criatividade dos estúdios de Hollywood. Mas não pode ser medida para a fé fundamentada em Jesus Cristo.

Embora seja um dos livros mais pesquisados e que mais despertam a curiosidade de todas as gerações de cristãos, o Apocalipse não apresenta previsões que possam ser calculadas. Qual é, então, a mensagem do Apocalipse?

De certa maneira, há uma impressionante semelhança com a visão maia sobre o tempo. A data “4 Ajaw 3 K’ank’in” era a previsão da esperança imanente de que o deus Bolon Yokte voltaria. O Apocalipse conta como a esperança vê encerrar-se o tempo em que vivemos e indica um novo tempo, sob o reinado de Cristo, e essa é uma esperança transcendente.

Todo o resto, mesmo no Apocalipse de João, são especulação e efeitos especiais. É pirotecnia que ofusca a mensagem central de esperança cristã, de um tempo sem dor, sem morte, no aconchego revitalizador de Deus, que tudo criou e tudo renova. Em Cristo, esperamos por esse novo tempo, que deve encerrar um período de sofrimentos e catástrofes, muitos deles provocados pela própria arrogância humana.

O apocalipse não quer meter medo, mas nos desafia profeticamente. Colocar sinais da esperança que nos move é o motor que alimenta o nosso sonho mais remoto e mais bonito, abafando qualquer conversa atemorizante sobre um fim catastrófico e destrutivo. A esperança na parusia – a nova vinda – de Cristo anima-nos a colocar pequenas e reveladoras parusias diárias ao nosso redor, que antecipam um novo tempo repleto de paz e salvação.

(Artigo publicado na revista Novolhar n. 45, maio/junho de 2012)

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